Índia - Gal Costa
- Luiz Eduardo Bedoia
- 2. Apr.
- 2 Min. Lesezeit

Lançado em 1973, Índia é um dos álbuns mais ousados e marcantes da carreira de Gal Costa, consolidando sua transição da fase tropicalista para uma sonoridade mais sensual, experimental e política. O disco, produzido por Gilberto Gil, é uma verdadeira obra-prima da MPB, misturando ritmos brasileiros, latinidade e psicodelia em uma fusão inovadora que influenciaria gerações.
O impacto de Índia começa pela sua icônica capa, que gerou polêmica à época: uma imagem sensual de Gal, vestida com uma tanga indígena, desafiando tabus e os padrões conservadores da sociedade brasileira. Mas o verdadeiro escândalo do disco está na sua música: um repertório que atravessa o samba, o bolero, o baião e a canção romântica, sempre com uma abordagem sofisticada e vanguardista.
A interpretação de Gal é o grande trunfo do álbum. Com uma voz ao mesmo tempo doce e visceral, ela transforma cada canção em uma experiência única. A faixa-título, Índia, uma regravação da música paraguaia de José Asunción Flores e Manuel Ortiz Guerrero, ganha um tom etéreo e hipnótico na sua versão. Já Volta e Milho Verde exploram sua potência vocal, transitando entre o lamento e a explosão rítmica.
Este disco é um marco na MPB porque expande os limites da canção brasileira. Gal Costa, já consagrada como uma das intérpretes mais versáteis do país, aqui se reinventa, entregando um álbum sensual, contestador e artisticamente inovador. Em plena ditadura militar, Índia foi uma resposta sutil, porém potente, à repressão – tanto musicalmente, ao apostar em uma liberdade estilística, quanto na sua estética provocativa.
Cinco décadas depois, Índia continua atual, reafirmando o lugar de Gal Costa como uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos e provando que a verdadeira arte sempre encontra caminhos para desafiar, emocionar e transcender.
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