Abraxas - Carlos Santana
- Luiz Eduardo Bedoia
- 8. Apr.
- 2 Min. Lesezeit

São Francisco, nos anos 60, foi o epicentro magnético de uma profunda revolução cultural nos Estados Unidos. Em meio a tensões sociais e à Guerra do Vietnã, a contracultura floresceu, com a juventude questionando valores conservadores e buscando paz, amor e liberdade. Esse espírito, personificado pelo movimento Hippie e embalado pela música psicodélica de bandas como Grateful Dead e Jefferson Airplane, criou um ambiente fértil para a experimentação sonora.
Foi nesse cenário vibrante que emergiu Carlos Santana. Trazendo suas raízes mexicanas e influências de blues, rock e jazz, ele e sua banda criaram algo revolucionário: uma fusão pioneira de rock com a pulsação contagiante dos ritmos e da percussão latina. A guitarra melódica e o sustain inconfundível de Santana eram a alma desse som, perfeitamente complementada pelo órgão de Gregg Rolie e a força percussiva essencial de José 'Chepito' Areas e Michael Carabello. Nascia ali uma sonoridade única e poderosa.
A eletrizante performance no festival de Woodstock (1969) catapultou essa energia inovadora para o mundo, antes mesmo do lançamento do seu primeiro disco. O álbum de estreia homônimo, "Santana", lançado logo depois, solidificou essa identidade sonora com hits como "Evil Ways" e "Jingo", capturando com sucesso a vibração do palco.
Lançado em 1970, apenas um ano após a estreia explosiva, "Abraxas" não é apenas o segundo álbum da banda Santana; é a obra-prima que cimentou seu lugar no panteão do rock e definiu o Latin Rock para uma geração. Se o primeiro disco apresentou ao mundo a fusão incendiária de rock psicodélico, blues e ritmos afro-cubanos, "Abraxas" a refinou, expandiu e a entregou com uma confiança e uma coesão impressionantes, tornando-se um marco cultural e sonoro.
Desde a icônica capa de Mati Klarwein, sinalizando uma viagem mística, o álbum mergulha o ouvinte num caldeirão sonoro equilibrado. A guitarra de Carlos Santana está mais expressiva do que nunca – solos fluidos, cheios de sustain e sentimento, transitando com maestria entre blues, rock e a cadência latina. O órgão Hammond de Gregg Rolie pulsa vibrante, enquanto a cozinha rítmica (David Brown no baixo, Michael Shrieve na bateria) e a crucial dupla de percussionistas (Areas e Carabello) criam texturas e grooves irresistíveis.
"Abraxas" é recheado de momentos inesquecíveis. Da abertura etérea "Singing Winds, Crying Beasts" à genial releitura de "Black Magic Woman" fundida à "Gypsy Queen", passando pelo groove contagiante de "Oye Como Va" (cover de Tito Puente que se tornou sinônimo de Santana), o álbum cativa.
"Abraxas" transcende a definição de álbum; é uma experiência sonora completa e um testemunho do poder da fusão cultural na música. É um clássico absoluto, essencial em qualquer discoteca básica de rock, e a prova definitiva do talento e da visão artística de Santana no auge de sua criatividade inicial. Uma audição obrigatória que captura perfeitamente a magia nascida na efervescência cultural de seu tempo.
Comentários