#KingButch – Butcher Brown
- Luiz Eduardo Bedoia
- 9. Mai
- 2 Min. Lesezeit

Se a sua semana musical foi uma jornada sonora e eclética — começando pelas raízes afro de Sankofa, mergulhando na imensidão modal de Kind of Blue, se encantando com os compassos quebrados de Time Out e dançando com a fusão explosiva de Head Hunters —, então merece fechar esse ciclo com uma experiência que desafia expectativas e amplia nossa escuta sobre o jazz contemporâneo.
Prepare-se para sentir o groove pulsante do Butcher Brown, quinteto de Richmond, Virginia, que nos convida a repensar o que entendemos por jazz do século XXI — com os dois pés fincados no groove.
O que o grupo realiza em #KingButch (2020) não é apenas inovador: é uma evolução profundamente enraizada numa tradição que começa nos clubes de Nova Orleans, passa pela energia de James Brown e ressoa nos sintetizadores cósmicos de Herbie Hancock. Essa herança se traduz em improvisos sofisticados com a urgência rítmica do hip-hop, melodias jazzísticas adornadas por texturas eletrônicas e uma atitude soul que remete à visceralidade de D'Angelo.
Eles fazem parte de uma linhagem que rejeita a separação artificial entre mente e corpo no jazz. A mesma energia que nos fez vibrar com o soul jazz dos anos 60, com o fusion dos 70 e com os experimentos elétricos de Miles Davis em On the Corner pulsa aqui, agora combinada com a batida urbana do hip-hop e a produção crua da era digital.
Butcher Brown é filho legítimo de Roy Hargrove (RH Factor), Madlib, D’Angelo e Robert Glasper — mas sua alquimia resulta em algo único: a colisão fascinante entre improviso jazzístico e repetição hipnótica, baixo elétrico com swing de rua, Fender Rhodes com vocoders e rimas.
O álbum é uma celebração visceral dessa fusão. Gravado com urgência palpável e espontaneidade contagiante, soa como uma jam elétrica que ganhou vida própria — um convite a sentir a música em sua forma mais viva.
“Cabbage (DFC)” explode em funk moderno, com metais incisivos, teclados pegajosos e um baixo pulsante que se entrelaçam em camadas ricas e vibrantes.
Em “Hopscotch”, somos levados a um playground rítmico — sincopado, leve, mas com uma força gravitacional que torna impossível ignorar sua pulsação. A bateria intrincada e o baixo ágil criam terreno fértil para improvisos que desafiam a atenção do ouvinte.
“Gum In My Mouth” mergulha em territórios sonoros inexplorados, onde o jazz-funk flerta com texturas quase alienígenas. Grooves que desafiam a categorização e expandem horizontes.
O álbum como um todo transita entre o dançante, o psicodélico e o político — sempre com atitude e balanço. Esse som não é pra ser intelectualizado em excesso: é pra ser sentido na pele, liberar o corpo e deixar fluir. É jazz com credibilidade de rua, feito por músicos que reverenciam a história sem se curvar diante dela.
Feche a semana com o volume no talo e deixe o som te tomar por inteiro.Butcher Brown te espera com groove pesado e sorriso sonoro.Dê o play em #KingButch e descubra o swing do século XXI.
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