Todos os Olhos - Tom Zé

Lançado em 1973, Todos os Olhos é um dos álbuns mais emblemáticos da carreira de Tom Zé, tanto por sua sonoridade inovadora quanto por sua icônica e controversa capa. Em meio à Ditadura Militar no Brasil, o disco se apresenta como um ato de resistência, repleto de ironia, experimentação e uma postura desafiadora em relação à censura e ao status quo da música brasileira.

Com uma abordagem vanguardista, Todos os Olhos combina MPB, tropicália, poesia concreta e elementos do rock e da música erudita. Tom Zé, com seu estilo único e irreverente, desconstrói as formas tradicionais da canção popular e propõe um som fragmentado, com letras afiadas e melodias inesperadas. Faixas como Augusta, Angélica e Consolação e O Riso e a Faca revelam sua habilidade de transformar o cotidiano em crítica social, enquanto Brigitte Bardot escancara seu humor ácido e subversivo.

Mas Todos os Olhos não seria o mesmo sem sua icônica capa, que se tornou uma verdadeira lenda. À primeira vista, a imagem parece retratar uma bola de gude sobre uma superfície enrugada. No entanto, o que se sugere por trás da fotografia é algo muito mais provocador: uma alegoria escatológica em plena ditadura, um deboche à censura que tentava sufocar a arte e a cultura da época. A história conta que os censores não perceberam o duplo sentido da imagem e aprovaram a capa, permitindo que um dos gestos mais ousados da música brasileira passasse despercebido.

Mais do que um álbum, Todos os Olhos é um manifesto artístico e político. Sua sonoridade desafiadora e sua capa subversiva fazem dele uma peça essencial na discografia de Tom Zé e um símbolo da resistência cultural contra a repressão. Até hoje, continua sendo um exemplo da música como ferramenta de questionamento, inovação e liberdade.