Time Out - Dave Brubeck
- Luiz Eduardo Bedoia
- 7. Mai
- 2 Min. Lesezeit

O Arquiteto dos tempos impossíveis
Dave Brubeck não foi apenas um grande pianista: foi um dos mais ousados inovadores do jazz moderno. Em uma era em que o gênero buscava novas direções, ele desafiou convenções com uma proposta simples e brilhante: brincar com o tempo. Seus experimentos com assinaturas rítmicas incomuns, aliadas a uma abordagem melódica acessível, conquistaram tanto o público quanto a crítica, sem abrir mão da sofisticação.
Nascido em 1920, Brubeck formou-se em música clássica e estudou com o compositor francês Darius Milhaud. Sua carreira decolou com o clássico Dave Brubeck Quartet, ao lado de Paul Desmond (sax), Joe Morello (bateria) e Eugene Wright (baixo). Brubeck destacou-se não apenas pela música inovadora, mas também por seu posicionamento ético: recusou-se a tocar em lugares que discriminassem seu baixista negro, em plena era da segregação nos EUA.
Lançado em 1959, Time Out é uma das joias do jazz moderno. Sua proposta é clara: cada faixa explora uma assinatura de tempo incomum, transformando o ritmo em protagonista. Contra todas as expectativas da gravadora, o disco foi um sucesso de vendas e tornou-se um clássico.
A abertura com "Blue Rondo à la Turk" é um manifesto estético: alternando compassos de 9/8 e 4/4, Brubeck funde ritmos turcos com o swing do Jazz. Mas o momento icônico do álbum é "Take Five" — um hino em 5/4, composto por Paul Desmond. A bateria de Joe Morello guia uma levada hipnótica, enquanto o sax de Desmond desenha um tema que é ao mesmo tempo cerebral e cantável.
Time Out é muito mais do que um disco de jazz: é um convite ao encantamento. Com sete faixas e menos de 40 minutos de duração, ele oferece uma experiência completa e coesa, ideal para ser ouvida do início ao fim, sem interrupções.
"Strange Meadow Lark" começa com um prelúdio pianístico quase romântico, e se transforma suavemente em um swing descontraído. "Three to Get Ready" alterna compassos ternários e quaternários com uma naturalidade que surpreende. "Kathy's Waltz" e "Everybody's Jumpin'" mantêm o clima lúdico, brincando com formas que ora remetem à música clássica, ora à leveza do cool jazz.
O encerramento com "Pick Up Sticks" é um lembrete de que o jazz também pode ser um jogo rítmico elegante. Cada música propõe uma escuta atenta, mas sem exigir erudição. Pelo contrário: é um álbum que acolhe o ouvinte, mesmo nos terrenos menos familiares.
Se você nunca ouviu um álbum de jazz completo, Time Out é o ponto de partida ideal. Seu ritmo inusitado não afasta — convida. Sua inteligência não intimida — encanta. Dedique um tempo para ouvir ativamente, com bons fones, permitindo que as nuances rítmicas e melódicas se revelem. Cada faixa revela camadas de beleza que vão muito além do famoso "Take Five".
Dave Brubeck transformou o jazz ao mostrar que brincar com o tempo era também uma forma de emocionar. Time Out é sua obra-prima e continua atual, provocante e acolhedora. Em tempos de escuta acelerada e fragmentada, pare por 38 minutos e exercite capacidade de qualificar a riqueza rítmica e melódica, descobrindo novas camadas de beleza em cada compasso.
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