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Eric Clapton - Me and Mr. Johnson

  • Autorenbild: Luiz Eduardo Bedoia
    Luiz Eduardo Bedoia
  • 18. Juli 2016
  • 4 Min. Lesezeit

Em uma encruzilhada empoeirada, nos anos 30, Robert Johnson vendeu a alma em troca do talento no Blues. Do trato com o Diabo, nos moldes do Fausto de Goethe, germinou a semente do rock e a maldição dos 27 anos.


Nascido na lama do Mississippi, 1911, filho da pobreza e de pai que abandona mãe, o jovem Robert Johnson aprendeu a mudar de padrasto, casa, cidade e de sobrevivência de tempos em tempos. Trabalhou cedo onde deu, fez de tudo um pouco.

Logo viu que ganhar a vida nos bares, perto das mulheres e do Bourbon, era menos doloroso que nos campos de algodão, que lhe feriam os dedos mais que as cordas dos instrumentos. Entre a família e as estradas, o sagrado e o profano, nos caminhos cruzados, Robert Johnson criou o mito dele mesmo. Marketing pessoal, diriam os malditos consultores e treinadores de carreiras. Com músicas como “Me and the Devil”, “Crossroad Blues” e “Hellhound on my Trail”, ele dizia que o Diabo andava ao seu lado, que batia na mulher sem motivos, exaltava a encruzilhada e pedia perdão a Deus, chutava o cão do inferno no seu caminho. Mais ainda, tocava pelo penhor da alma. Blues tão bons que só o sobrenatural podia explicar: era o diabo!


Com uma gota de sangue, num papel qualquer, desde o Fausto de Goethe, o Diabo sela o contrato. Dá o êxtase da vida em troca da danação da alma. Prazeres mundanos, vaidade, luxúria, inteligência e talento. Na concorrência com Deus, promete tirar os obstáculos, pavimentar os caminhos, criar oportunidades, corrigir a sorte. Há muito no ofício de penhorar almas e roubar a fé, o Coisa-Ruim tem predileção pelos artistas, poetas malditos e músicos geniais. Gosta mesmo da boa música, da gula das boas comidas, das mulheres más, do cigarrinho do Capeta, da água que passarinho não bebe, dos espíritos soltos e das ideias contestadoras, enfim, de tudo aquilo que faz desse mundo um lugar mais divertido e interessante. Também o saber das coisas, o fogo roubado do Olimpo, os frutos proibidos do conhecimento, a filosofia filha da dúvida e aquilo que a razão afirma em detrimento da fé, a ciência. O Capiroto é das coisas finas, sujeito de riqueza e gosto.


Não fosse assim, só com rezas, terços e ladainhas, o mundo seria mesmo o tal vale de lágrimas. Contudo, demorou muito para o Demônio amadurecer no caminho do rock. Famoso por ser o primeiro revolucionário a lutar contra o sistema, por tentar Jesus no deserto, assombrar a Idade Média, criar a mais-valia e os impostos retidos no contracheque, o Canhoto só começaria a cair nas graças da juventude transviada ao promover a trilha sonora mais quente do século XX.


Justiça seja feita, também o doutor Fausto já o tinha lançado nos braços do romantismo, nas flores de Baudelaire, nos abismos de Nietzsche; contudo, Mefistófeles só seria o astro da cultura pop com o advento do rádio, do LP, do Walkman, do Ipod. Da mídia. O pulo do gato, ou melhor, o avanço do cão foi quando ele investiu em Robert Johnson, na atitude, no visual, na rebeldia, no rock n' roll!


O Diabo cumpriu sua parte no acordo e deu ao Mr. Johnson a genialidade do Blues. Da lama do Mississippi brotaram a lenda e as 29 músicas que transformaram Robert Johnson no “mais importante bluesman da história” (Clapton). 29 músicas gravadas. Em apenas duas sessões, 1936 e 37, gravou 41 faixas, repetindo 12 músicas. Em 1938 o Diabo cobrou sua dívida.


Aliás, sobre a cobrança da alma, dizia o Dr. Fausto (Goethe) que Lúcifer só pode pegar seu quinhão quando consegue elevar seu sócio à experiência mais sublime, ao momento que o embasbacado de tamanha satisfação queira parar o tempo. Assim foi.


Robert Johnson estava no auge, ganhando dinheiro, vivendo de música, aplausos e suspiros para o seu lado. Numa noite daquelas, num flerte com a mulher do dono do estabelecimento, o Diabo assoprou nos ouvidos do marido. Deu-lhe a visão, tirou-lhe a razão. O sujeito magoado, enraivecido, planejou o mal feito. O Coisa-Ruim encostado no canto, com aquele sorriso cínico no rosto, cigarro aceso e baforadas. O penhor veio na forma de uísque com estricnina, copo que Johnson bebeu com regalo. Há quem diga que foi avisado, mas confiou no Diabo. Morreu três dias depois, aos 27 anos, rebentando a maldição de Robert Johnson.


Muito talento, excessos, álcool e o veneno correndo no sangue. Sexo, drogas e rock n’ roll. Mas tudo a prazo, no crediário, em prestações eternas: "aproveita primeiro e paga depois, chefia". O lugar está marcado, a hospedagem garantida, o inferno é pessoal.



Falou-se tanto aqui do outro que cabe uma pequena nota a Deus. Não se sabe como, mas Eric Clapton sobreviveu à maldição. Talvez o maior e mais famoso fã de Robert Johnson, Clapton continua vivo para contar a história. Gravou disco com as músicas do cara – “Me and Mr. Johnson” – fez shows dedicados a ele e lançou um ótimo filme com as “Sessions for Robert Johnson”. Em depoimento, reforçou a lenda dizendo que ele é “o mais importante músico de blues que já viveu”. Um elogio de “Deus” ao trabalho do Capeta. O Tinhoso deve ter ficado lisonjeado. Deve ser isso.


(Homero Nunes em 5/1/2015 - www.issocompensa.com)




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