Quarteto Novo - QUARTETO NOVO
- Luiz Eduardo Bedoia
- 4. Juli 2016
- 2 Min. Lesezeit
As relações entre o jazz e a música brasileira são muito mais íntimas do que possam aparentar. É uma intimidade que surpreende após a sua constatação. Suas origens são exatamente as mesmas, provenientes da cultura negra trazida pelos escravos africanos originários das mesmas regiões da costa ocidental do continente africano. Entregues à própria sorte, os escravos trabalhavam exaustivamente de sol a sol sem qualquer descanso e, frequentemente, sob a chibata implacável dos feitores. O único lenitivo que lhes amenizava o sofrimento era o canto que entoavam durante o trabalho, os lamentos à noite, os cânticos religiosos e a música de ninar das mães escravas. O destino separou os irmãos africanos pelos hemisférios das duas Américas, porém suas raízes foram as mesmas.
A semente que germinou a fusão entre as músicas populares da América do Norte e do Brasil foi plantada em abril de 1953 pelo violonista Laurindo Almeida e o saxofonista Bud Shank quando gravaram o seminal disco "Brazilliance", em Los Angeles. Nesse disco experimental, o violonista brasileiro e o saxofonista de jazz apresentaram uma novidade revolucionária: as improvisações de Shank tocando repertório brasileiro em linguagem jazzística. Em grande forma, Shank adaptou-se inteiramente ao contexto, assentando as bases do que na década seguinte chamariam de jazz-samba, mas no Brasil ficou conhecido por samba-jazz. O impacto daquele disco em nosso meio musical foi extraordinário, abrindo as portas para um estilo até então inimaginável. "Brazilliance" foi editado no Brasil pela gravadora Musidisc e conquistou imediatamente uma nova geração de músicos que vieram a ser figuras de relevo na Bossa Nova e, posteriormente, no samba-jazz.
Outro fator importante precursor do samba-jazz no Brasil foi o revolucionário disco "Turma da Gafieira", com Altamiro Carrilho (flauta), Zé Bodega e Maestro Cipó (saxes-tenor), Raul de Souza (trombone), Sivuca (acordeão), Baden Powell (violão), José Marinho (baixo) e Edison Machado (bateria). Além das improvisações nos solos, a atuação de Edison Machado incorporou uma inovação que causou surpresa, desagrado e controvérsia entre os renitentes cultores do samba: ele utilizou os pratos da bateria em seus estimulantes acompanhamentos, algo totalmente inédito e inconcebível para os músicos da época.

Dentro desse contexto o pernambucano Heraldo Monte, o carioca Theo de Barros e o catarinense Airto Moreira se juntaram na cena paulistana, no final dos anos 1960, acompanhando Geraldo Vandré no Trio Novo. Se não puderam participar da histórica apresentação de “Disparada”, estavam com Edu Lobo em “Ponteio” e Gilberto Gil em “Domingo no parque”. O candidato natural a quarto elemento, Geraldo Vandré, perdeu a vez para o alagoano Hermeto Paschoal. Estava constituído o Quarteto Novo, uma exuberante mistura de sonoridades nordestinas e levadas de samba jazz.
O primeiro e único LP do grupo, de 1967, traz temas assinados pelos integrantes e por Geraldo Vandré, além de uma canção menos conhecida de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, “Algodão”. O grupo logo se dissolveu, Geraldo Vandré seguiu para o exílio; Airto Moreira foi encontrar-se com Flora Purim nos Estados Unidos, onde desenvolveram uma carreira com os maiores nomes do jazz fusion.
O Quarteto Novo acabou se tornando objeto de culto no exterior, por sua sonoridade única, e o LP era uma raridade disputada até seu relançamento digital.
Ouça sem moderação.
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