Paulinho da Viola - A Dança da Solidão
- Luiz Eduardo Bedoia
- 1. Juli 2016
- 4 Min. Lesezeit
Primogênito do violonista Benedicto Cesar Ramos de Faria, que integrou a primeira formação do grupo de Choro Época de Ouro, Paulinho da Viola nasceu inserido nessa atmosfera entre choros e sambas. Assim, teve a oportunidade de conviver com grandes ícones do Choro como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis, entre outros, observando a e absorvendo as técnicas dos músicos.
Embora o pai não desejasse que o filho se tornasse músico, este, contudo, o convenceu a lhe dar um violão, instrumento que começou a aprender a tocar sozinho, aos 14 anos e, logo depois com o violinista Zé Maria, amigo da família, que o instruiu com o método de Matteo Carcassi.
Conseguiu seu primeiro emprego aos 19 anos como contador em uma agência bancária do centro do Rio, já que era estudante de economia. Em um dia de trabalho, viu Hermínio Bello de Carvalho, a quem conhecia de vista dos saraus musicais na casa de Jacob do Bandolim, entrar no banco para pagar uma conta e - depois de uma rápida conversa - o poeta sabiamente lhe aconselhou a abandonar aquela carreira enquanto era jovem. Paulinho atendeu um convite para visitar o apartamento de Hermínio no Catete, que naquela época era bastante frequentado por músicos, intelectuais e artistas diversos. Lá, pôde ouvir pela primeira vez gravações de compositores como Anescar do Salgueiro, Carlos Cachaça, Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Zé Ketti e também a ensaiar composições originais com Hermínio, um de seu primeiros parceiros musicais e grande incentivador de sua carreira.
Levado por Hermínio para conhecer o Zicartola, bar e restaurante fundado por Cartola e a Dona Zica na Rua da Carioca que se convertera em um reduto de sambistas, chorões, artistas, intelectuais e jornalistas. Quando aparecia por lá, o jovem Paulinho acompanhava, no cavaquinho ou no violão, compositores e intérpretes e também se apresentando cantando músicas de outros autores e, após fazer um show com o compositor Zé Ketti, foi incentivado pelo mesmo a cantar suas próprias músicas no Zicartola.
No ano seguinte, após ter acompanhado o cantor Ciro Monteiro em uma canja no Zicartola, decidiu abandonar seu posto de bancário para se dedicar exclusivamente à música. Pronto, Paulinho era do Samba sim Senhor! Em 1964, seu primo Oscar Bigode, que era diretor de bateria da Portela, o convenceu a se mudar de escola de samba e o apresentou para a ala de compositores da agremiação de Oswaldo Cruz, onde Paulinho mostrou a primeira parte de um samba que fazia e que Casquinha, um dos compositores portelenses, havia gostado e completado com a segunda parte, criando-se assim "Recado".
No início de carreira Paulinho foi parceiro de nomes ilustres do samba carioca, como Cartola, Elton Medeiros e Candeia, entre outros. Destaca-se como cantor e compositor de samba, mas também compõe choros e é tido como um dos mais talentosos representantes da chamada Música Popular Brasileira.

Lançado em 1972, "A Dança da Solidão" traz clássicos instantâneos da sua obra e navega pelos seus mais densos sentimentalismos. Paulinho herdou de Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes. Só que, ao contrário do mestre que se deixava ofuscar pela morbidez, Paulinho transpunha para a viola suas desilusões, como mostra a faixa-título do álbum. “Coração Imprudente” cai mais para o gingado da canção ao invés de adotar um tom deprimente pelo ‘coração machucado’. É como se o samba confortasse o músico assim como uma família ajuda a superar as maiores misérias amorosas. Mas engana-se quem pensa que a faceta triste é o grande marco desse disco. “Guardei Minha Viola” começa com uma alegria jovial para afastar as desilusões de sua viola. Paulinho tem o instrumento como uma lembrança vivaz de um ‘alguém que só me fez ingratidão’, aceitando a condição de sensível enquanto músico.
Na faixa seguinte, o sambista já volta ao seu lado terno. ‘Eu sou assim/quem quiser gostar de mim/eu sou assim’, canta Paulinho em “Meu Mundo e Hoje (Eu Sou Assim)”. Ele se mostra como um homem feliz com suas condições sociais: as grandes reviravoltas na sua vida ocorrem com os amores. ‘Não levarei arrependimento/nem o peso da hipocrisia/tenho pena daqueles/que se agacham até o chão/por dinheiro ou posição’. Pois, ‘além de flores/nada mais vai no caixão’.
Paulinho também faz algumas releituras, como a sólida “Duas Horas da Manhã”, de Nelson Cavaquinho, e “Acontece”, de Cartola – dois dos mais tristes sambistas que serviram como inspiração para o músico. Além delas, Paulinho dá um tom orquestral para a belíssima “Falso Moralista”, de Nelson Sargento.
Como diz o Poetinha - "Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza. Senão não se faz um samba não". O Poetinha sabe mesmo das coisas e está aí como comprovação da sua tese, Paulinho da Viola... Seu samba de qualidade inquestionável é o que se pode conceituar de "sofrência" com classe, pois se pudesse resumir sua arte a uma só palavra escreveria simplesmente Elegância!
Qualifique sua "sofrência" e chore se tiver vontade, mas nunca esqueça que depois de afogar as mágoas o samba sempre amanhece alegre e "amanhã vai ser ser outro dia!"
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