Chico Buarque - Construção
- Luiz Eduardo Bedoia
- 22. Juni 2016
- 2 Min. Lesezeit
O Senhor Francisco Buarque de Hollanda, Chico Buarque para os íntimos, é um dos maiores nomes da nossa música popular. Sua vasta discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos. De uma obra extensa e fundamental, é quase que impossível resumi-la. Desde o lançamento do seu primeiro álbum em 1966, que a MPB foi presenteada com uma das carreiras mais ímpares, densas e brilhantes da sua história. Tendo como mestre Noel Rosa, o início da obra de Chico Buarque reflete os sambas tradicionais, repletos de um lirismo nostálgico.
Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amélia Cesário Alvim, escreveu seu primeiro conto aos 18 anos, ganhando destaque como cantor a partir de 1966, quando lançou seu primeiro álbum, Chico Buarque de Hollanda, e venceu o Festival de Música Popular Brasileira com a música A Banda. Autoexilou-se na Itália em 1969, devido à crescente repressão do regime militar do Brasil nos chamados "anos de chumbo", tornando-se, ao retornar, em 1970, um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização no país.

Construção foi composto em períodos entre o exílio de Chico na Itália e sua volta ao Brasil e é carregado de críticas ao regime militar vigente, principalmente no que concerne à censura imposta pelo governo e pelo estado indigno no qual as condições individuais se encontravam no país. Quando Chico Buarque retornou ao Brasil, foi aconselhado por Vinícius de Moraes a voltar sob os holofotes, em meio a uma grande recepção com bastante aparato na sua chegada, convocando imprensa, amigos, promovendo um show na boate Sucata, para o lançamento do seu quarto disco, tudo isto para evitar que o cantor e compositor fosse preso pela ditadura militar tão logo desembarcasse no aeroporto.
O álbum reflete uma fase de intensa parceria entre Chico Buarque e Vinícius de Moraes. O Poetinha aparece no álbum em quatro composições em parceria com Chico Buarque, Toquinho e Tom Jobim: “Desalento” (Chico Buarque – Vinícius de Moraes), “Olha Maria” (Tom Jobim – Vinícius de Moraes - Chico Buarque), “Valsinha” (Vinícius de Moraes – Chico Buarque) e “Samba de Orly” (Vinícius de Moraes – Toquinho – Chico Buarque). Nestas quatro canções a influência poética e lírica de Vinícius é latente.
O disco marca o aguçamento da vertente crítica da poética do autor. Se antes ele harmonizava Bossa Nova com composições veladamente críticas à ditadura brasileira, em "Construção" o cantor mostrou-se mais ousado - como indica os versos iniciais de "Deus lhe Pague", faixa que abre o LP ("Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir"). Em "Samba de Orly", parceria com Toquinho e Vinicius de Moraes, Chico canta abertamente sobre o exílio - o que fez com que a canção fosse parcialmente censurada. A faixa-título é uma crítica sobre um homem que trabalhou arduamente até sua morte. Não faltaram também o lirismo característico do artista, como demostrado em "Olha Maria" e "Valsinha". O álbum conta com arranjos de Magro, então integrante do grupo MPB-4, e do maestro Rogério Duprat.
Um disco histórico desse grande artista brasileiro.
Comments