Secos & Molhados - 1973
- Luiz Eduardo Bedoia
- 2. Juni 2016
- 2 Min. Lesezeit
O ano é 1973 e o disco de hoje nasceu lá e se consolidou como uma obra perene, clássico do Rock, e da Música Popular Brasileira.
Essa bolacha sempre que ouço me suscita inúmeras indagações sobre esse fenômeno cultural chamado Secos & Molhados, o ambiente que propiciou seu surgimento e a efemeridade de um grupo que obteve tamanho sucesso. O País vivia um dos períodos mais sombrios dos anos de chumbo após o decreto do AI5 e com um repertório que combina elementos do pop rock, lirismo de baladas folk e letras que transitavam do tom alegre, debochado, brincalhão à crítica social e política, a banda vendeu milhares de discos num curto espaço de tempo chegando a tornar-se um dos maiores fenômenos comerciais da indústria fonográfica brasileira.
A presença de palco era marcada pelo forte apelo visual, com seus integrantes usando fantasias, maquiagens carregadas e gestualidade com traços andrógenos nacionalizando a chamada “estética glitter”, muito em voga no cenário da música pop internacional.
Apesar de ser quem é, artista de gigantesco talento, e estar em plena atividade com produção de altíssimo nível e ter surgido nos S&M, Ney Matogrosso, vocalista de enorme presença de palco, ao contrário do que muitos possam pensar, não era o líder da banda. Com isso tento corrigir o que considero uma grande injustiça à trajetória de João Ricardo, jornalista, músico e compositor, foi o líder intelectual do grupo. De origem portuguesa, imigrou para o Brasil ainda adolescente com o pai, o poeta e crítico João Apolinário, que foi obrigado a deixar seu país por razões políticas veio fugindo da ditadura salazarista e caiu em nossa Ditadura de Milico.

O disco estampado com uma das melhores capas da MPB de todos os tempos exibe as cabeças dos quatro músicos sobre bandejas dispostas numa mesa ao lado de pães, garrafas de bebida, cebola, grãos e linguiças como se tudo estivesse preparado para um banquete antropofágico.
Como recheio dessa ceia Oswaldiana várias pérolas da canção tornaram o disco um sucesso de vendas, mas uma em particular obteve estrondoso sucesso radiofônico. "O Vira" faz alusão ao gênero popular português de canto e dança conhecido pelo mesmo nome cita figuras míticas da cultura popular e fala de situações associadas a superstições atingindo seu ápice com a utilização ambígua do termo vira que é empregado tanto como o movimento giratório quanto como o ato de transformar-se em lobisomem.
Não poderia deixar de destacar as impressionantes "Sangue Latino", "O Patrão Nosso de Cada Dia", "Primavera entre os Dentes", "Assim Assado" e o toque de midas do Poetinha com "Rosa de Hiroshima"... É muita coisa boa pra um disco só!
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